Auxiliar no Americana, Evair faz planos e corneta Palmeiras
O calor de quase meio-dia era de matar. Em um dos gols, o “professor” Evair, de boné e prancheta, orientava jogadores do Americana, que treinavam cobranças de pênalti.
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“Eles me escutam. Pois, quando você tenta mostrar uma coisa aos atletas, você precisa ter feito isso. Fiz isso a vida inteira”, disse à Folha o ex-jogador de 46 anos, auxiliar técnico do Americana.
Evair fez isso e muito mais. Sabia cobrar pênaltis como ninguém. Chegou a um esfacelado Palmeiras no início dos anos 90. Saiu vitorioso, voltou e deixou o clube campeoníssimo da Libertadores.
Tentou a carreira de treinador quando encerrou a carreira em agosto de 2003 e não teve muito sucesso. Agora, ao lado de Sérgio Guedes, faz ótima campanha pela Série B do Campeonato Brasileiro.
“Os jogadores conhecem minha história e respeitam.”
Difícil não respeitar. Evair é tido por muitos palmeirenses –se não a maioria deles– como o último grande atacante do time. Em tempos dos esforçados Fernandão, Luan, Dinei e tantos outros, a nostalgia só faz aumentar.
Por isso, conversar com Evair e não falar do Palmeiras é inevitável. Ele conta o entusiasmo pela equipe do interior. Mas é o Palmeiras que lhe arranca um sorriso e algumas críticas ao clube.
Afinal, quando ele chegou ao Palmeiras, em 1991, o time vivia tempos parecidos com os atuais: uma seca enorme de títulos e pouca esperança.
“A gente fugia das polêmicas, tentava evitar comentários sobre companheiros. A cobrança era tanta que era difícil até mesmo sair para ir a um restaurante. Hoje eu vejo jogador dando entrevista polêmica, usando Twitter…”
Ser ídolo, então, era algo impensável, conta Evair.
“Eu tive que ser campeão para virar ídolo. Demorou muito para a torcida me reconhecer. Hoje, não. Jogador faz três bons jogos e vira ídolo. Hoje é muito mais tranquilo jogar no Palmeiras. Você faz o que quer. Naqueles tempos, só mostrar vontade não era suficiente”, afirmou.
O ex-camisa 9 aponta semelhanças entre 1991 e 2011.
“O Palmeiras sempre foi assim, discussão, polêmica. Tem que ter caráter pra conviver com isso”, declarou.
Durante quase 40 minutos, ele falou mais: o gol mais memorável –aquele na final do Paulista de 1993, contra o Corinthians, que tirou o time alviverde da fila– e a vontade de voltar ao clube. “Não sonho mais com isso. Acho que o torcedor não me aceitaria como auxiliar, por exemplo. Mas nem espero mais isso.”
Do Palmeiras, diz, ele já recebe o que quer. “O que mais ouço do torcedor é ‘obrigado’. É um orgulho enorme.”
Com a Folha.com